Governança Corporativa e Psicologia Social: A Influência da Teoria de Bandura no Caso Lava Jato e Volkswagen

A governança corporativa é, em sua essência, o sistema pelo qual as empresas são dirigidas e controladas. Entretanto, ela vai muito além de normas e regulamentos — envolve aspectos humanos, sociais e culturais que moldam profundamente as ações e decisões dos conselhos de administração. Um elemento essencial, frequentemente negligenciado, é o impacto das dinâmicas sociais e do Compliance. A Teoria da Aprendizagem Social de Albert Bandura, que explora como os indivíduos imitam comportamentos observados, oferece um insight poderoso sobre o funcionamento interno das grandes corporações.

O Contexto Humano nas Decisões Corporativas

Ao pensar em governança, muitas vezes nos concentramos nos aspectos técnicos e formais: políticas, compliance, e transparência. No entanto, a realidade humana por trás dessas estruturas é essencial. Albert Bandura mostrou que, em qualquer ambiente social, as pessoas tendem a reproduzir o comportamento que observam ao seu redor. Isso é particularmente visível em conselhos corporativos, onde o comportamento de liderança, especialmente em situações de alta pressão, pode ser replicado pelos conselheiros, criando um ciclo de conformidade que afeta a tomada de decisões.

Esse processo, conhecido como “modelagem social”, é parte integrante das interações dentro das empresas. Sob o prisma de Bandura, percebemos que práticas inadequadas ou antiéticas não surgem isoladamente, mas são resultado de dinâmicas sociais e culturais arraigadas no comportamento organizacional. Essas práticas podem se perpetuar, mesmo quando conselheiros externos são trazidos para garantir supervisão crítica — sua capacidade de influenciar positivamente pode ser neutralizada ao absorverem as normas do grupo.

Volkswagen: Uma Cultura de Fraude

O caso da Volkswagen é um exemplo perfeito de como um comportamento disfuncional pode se espalhar por uma organização. O escândalo de emissões de poluentes, conhecido como Dieselgate, não surgiu de uma falha isolada, mas de uma cultura corporativa que tolerava, e até incentivava, práticas fraudulentas para alcançar metas de desempenho ambiciosas. Segundo uma análise da ICGN, a fraude foi sistematicamente integrada à operação da empresa, e as decisões de falsificar os resultados dos testes de emissões foram aceitas pelos executivos e conselheiros sem grande resistência.

Ao aplicar a teoria de Bandura, vemos que os membros do conselho não apenas observaram esse comportamento — eles o imitaram, aceitando a fraude como parte das normas organizacionais. A falta de questionamento reflete a conformidade social que se instala em grupos que compartilham metas e pressões semelhantes. Comportamentos antiéticos foram replicados em todos os níveis, desde os executivos de alto escalão até a gerência intermediária. No centro dessa dinâmica estava a pressão por resultados financeiros, que levou ao sacrifício da integridade em prol de metas de curto prazo.

Lava Jato: A Corrupção Sistemática na Petrobras

De forma semelhante, a Operação Lava Jato revelou uma rede complexa de corrupção dentro da Petrobras, onde conselheiros e executivos estavam diretamente envolvidos em esquemas de propina. Segundo reportagens detalhadas da Fordham Law News, os conselheiros não apenas toleraram, mas em muitos casos participaram ativamente dos esquemas que envolviam políticos e empreiteiras. A corrupção tornou-se uma parte sistêmica do funcionamento da empresa, com contratos sendo manipulados e recursos desviados em larga escala.

Assim como no caso da Volkswagen, a conformidade social foi uma força poderosa dentro da Petrobras. Os conselheiros, que deveriam supervisionar e garantir a integridade da empresa, foram absorvidos pela cultura interna de corrupção. Em vez de desafiar as práticas, muitos conselheiros adotaram essas mesmas atitudes, criando uma rede de favorecimento e ganhos ilícitos que minou as boas práticas de governança.

Bandura argumenta que, quando figuras de autoridade adotam certos comportamentos, eles acabam por moldar as ações dos demais membros do grupo. Na Petrobras, essa dinâmica ficou clara — as práticas antiéticas começaram no topo e se espalharam por toda a estrutura da empresa, alimentadas pela imitação e pela conformidade social. Os líderes, ao se envolverem na corrupção, passaram a ser modelos para os demais, que replicaram essas práticas em busca de ganho pessoal e manutenção de status.

Reflexões sobre a Governança e o Comportamento Humano

O estudo da governança corporativa sob a ótica da psicologia social revela que os aspectos humanos e culturais desempenham um papel vital nas ações de uma organização. A teoria de Bandura nos mostra que o comportamento de uma empresa não é formado apenas por suas políticas e regulamentos, mas também pela dinâmica social que ocorre dentro de seus conselhos. No caso da Volkswagen e da Petrobras, a falta de uma supervisão crítica e a pressão por resultados criaram ambientes onde comportamentos antiéticos foram replicados em todos os níveis.

Para que a governança corporativa seja verdadeiramente eficaz, é necessário ir além das regras formais e criar uma cultura organizacional onde a integridade e a ética sejam promovidas e observadas por todos os membros. Conselheiros independentes e uma liderança ética são essenciais para quebrar o ciclo de conformidade social que pode levar à perpetuação de práticas prejudiciais.

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