Um paralelo com o caso Cambridge Analytica
A Meta anunciou o fim do programa de checagem de fatos no Facebook e no Instagram dos EUA. O próprio Mark Zuckerberg, anunciou as mudanças em um vídeo. Disse que o objetivo é retomar a liberdade de expressão em suas redes sociais.
Não consigo deixar de fazer o paralelo com o caso Cambridge Analytica, e com o fato de que não aprendemos nada com o ocorrido.
Hoje sabemos que a empresa utilizou dados para mandar aos usuários publicidade política especialmente adaptada (incluindo fake news e notícias tendenciosas) e elaborou informes detalhados para ajudar o atual presidente Trump a ganhar a eleição contra a então candidata democrata Hillary Clinton em 2016.
Gostaria ainda de relembrar que este caso foi um grande influenciador da criação da GDPR, Lei de Proteção de Dados Pessoais da Europa, bem como da nossa LGPD.
O caso Cambridge Analytica.
O caso ocorrido foi que dados coletados pela empresa foram detalhados o suficiente para a criação de perfis psicológicos para uma campanha política. As informações de cada perfil sugeriam qual tipo de anúncio seria mais eficaz para persuadir uma determinada pessoa em um determinado local sobre algum evento político.
Hoje sabemos que a empresa utilizou estes dados para mandar aos usuários publicidade política especialmente adaptada (incluindo fake news e notícias tendenciosas) e elaborou informes detalhados para ajudar o atual presidente Trump a ganhar a eleição contra a candidata democrata Hillary Clinton.
Chamo a atenção ao fato de que a Cambridge Analytica trabalhou com o time responsável para campanha do republicano Donald Trump nas eleições de 2016, nos Estados Unidos.
Bem como na Europa a empresa foi contratada pelo grupo que promovia o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia). No entanto, a Cambridge Analytica nega e afirma que nunca trabalhou para a campanha.
A empresa é propriedade do bilionário do mercado financeiro Robert Mercer e era presidida, à época, por Steve Bannon, então principal assessor de Trump.
Controle tendencioso
Voltando ao video do Zuckerberg, este fala que o controle de fake news é tendencioso, sem dar qualquer detalhe, prova ou fundamentação; que a Europa está institucionalizando a censura; e a existencia de tribunais secretos que agem na surdina para remover conteúdos de sua plataforma; leia-se, STF.
Na realidade o que o incomoda é exatamente a GDPR, a LGPD e nosso sistema judiciário. E não estou fazendo a defesa de como a coisa foi conduzida por nossas terras, mas não posso deixar de concordar com o STF de que aqui não é casa da Mãe Joana.
A Europa está bem mais avançada do que o restante do mundo quando se fala sobre direitos dos usuários nas redes sociais.
O que o Trump ganha com isso?
Sem um controle, e com os atuais algorítmos afinadíssimos, temos a receita perfeita para um caos politizado onde o Trump sabe navegar muito bem, e tira o maior benefício possível de fake news transitando livremente pela falta de qualquer checagem de fatos na internet.
Mas, e a Meta, o que ela ganha com isso?
O de sempre… quanto maior a polarização, quanto maior a redundancia de conteúdo radicalizado, mais clicks e mais dinheiro. É um ciclo altamente lucrativo para as redes sociais.
A Máquina do Caos
No Livro A Máquina do Caos, o autor Max Fisher, repórter do New York Times que foi finalista do prêmio Pulitzer em 2019 com uma reportagem coletiva sobre as redes sociais (que deu origem ao livro), apresenta os bastidores dos negócios bilionários das redes sociais. Em viagens para Sri Lanka, Mianmar, México, Alemanha e Brasil, Fisher recontou como o discurso do ódio e o crescimento do extremismo no mundo está intrinsecamente ligado às estratégias de crescimento de plataformas como Twitter, Facebook, YouTube, Reddit e outras.
O autor demonstra que as empresas sabiam que suas ferramentas se aproveitavam de vulnerabilidades psicológicas e que eram um estímulo a comportamentos nocivos.
A conclusão é óbvia
Ninguém está preocupado com a liberdade de expressão.
A Meta se beneficia com conteúdo criado para gerar polarização e com isso aumentar os acessos a conteúdos sem checagem, sem moderação, muitas vezes falso e até ofensivo, entrando pela seara criminosa.
Trump se beneficia com a utilização dos mega algoritmos amplificando conteúdos criados e muito bem direcionados a usuários altamente propensos a acreditar neste conteúdo, bem como se beneficia ao criar o caos político que temos visto.
Isso vai desde estrangeiros que comem cães e gatos, até a anexação da Groenlandia, Panamá e do Canadá.
Vivemos em um tempo muito estranho, e estamos perigosamente dançando com o caos.
Fontes:
Escandalo Cambridge Analytica:
Matéria BBC sobre o caso: Entenda o escândalo de uso político de dados que derrubou valor do Facebook e o colocou na mira de autoridades
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-43461751
Matéria Exame
https://exame.com/tecnologia/cambridge-analytica-se-declara-culpada-por-uso-de-dados-do-facebook
El Pais: O Brexit não teria acontecido sem o escandalo Cambridge Analytica
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/26/internacional/1522058765_703094.html
Globo
A máquina do caos: Como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo