Você trabalha em Compliance, Auditorias, Investigações Forenses? Então deveria conhecer sobre a “Desconexão Moral”.
A teoria da desconexão moral, proposta por Albert Bandura, psicólogo social, em sua obra “Moral Disengagement in the Perpetration of Inhumanities” (1990), é essencial para profissionais que lidam com questões de Compliance, auditorias e investigações forenses. Bandura, reconhecido por seu trabalho em psicologia social e aprendizagem social, aprofunda ainda mais o tema em seu livro mais recente, intitulado “Mechanisms of Moral Disengagement” (2016).
A desconexão moral é um fenômeno psicológico que tem relevância direta para casos de investigações antiéticas e fraudes. Muitas vezes, indivíduos envolvidos em comportamentos fraudulentos ou situações antiéticas experimentam uma desconexão entre suas normas morais e suas ações reais. Essa discrepância pode levar a justificativas e racionalizações que minimizam a gravidade do comportamento.
Alguns pontos-chave sobre como a desconexão moral se relaciona com essas situações:
1. Deslocamento de responsabilidade: Durante investigações antiéticas ou atos fraudulentos, os envolvidos frequentemente buscam transferir a responsabilidade para outras pessoas ou fatores externos. Eles podem alegar que estavam apenas seguindo ordens superiores ou que foram pressionados pelo ambiente de trabalho a agir daquela forma.
2. Minimização das consequências: Aqueles que se envolvem em comportamentos fraudulentos tendem a minimizar as consequências negativas de suas ações. Eles convencem a si mesmos de que seus atos não causarão danos significativos ou que os benefícios obtidos superam amplamente quaisquer danos causados. Essa minimização ajuda a reduzir a tensão moral que poderiam sentir.
“Quanto menos os indivíduos atribuem consequências prejudiciais às suas ações, menor é a probabilidade de se sentirem moralmente responsáveis.” – Albert Bandura
3. Desumanização das vítimas: A desconexão moral pode levar à desumanização das vítimas de fraudes ou investigações antiéticas. Os perpetradores começam a ver as vítimas como meros alvos ou números, em vez de indivíduos com sentimentos e direitos. Essa desumanização facilita a justificativa de comportamentos prejudiciais.
4. Eufemismo moral: Durante investigações antiéticas, as pessoas envolvidas tendem a usar eufemismos ou linguagem que minimiza a natureza imoral de suas ações. Isso ajuda a mascarar a gravidade do comportamento, tornando-o mais aceitável em sua própria perspectiva. Termos técnicos ou jargões são frequentemente utilizados para obscurecer a verdadeira natureza do que estão fazendo.
5. Difusão de responsabilidade: Em ambientes organizacionais, a difusão de responsabilidade é comum durante investigações antiéticas. Indivíduos podem acreditar que são apenas um elo em uma cadeia de ações, diluindo assim a responsabilidade individual. Essa difusão de responsabilidade reduz a sensação de culpa e facilita a justificação de comportamentos inadequados.
É importante destacar que a desconexão moral não é uma condição inata das pessoas, mas um processo psicológico que pode ocorrer em determinadas circunstâncias. Fatores situacionais, como pressão do grupo, normas organizacionais permissivas e oportunidades para comportamentos antiéticos, podem influenciar a desconexão moral.
“A desconexão moral é um fenômeno que exige vigilância constante e ação proativa para garantir a ética e a integridade em todas as áreas de atuação.” – Albert Bandura
Além disso, é importante mencionar a interconexão entre a desconexão moral e o chamado “Triângulo da Fraude”. O Triângulo da Fraude é uma estrutura conceitual que descreve os três elementos necessários para a ocorrência de fraudes: oportunidade, pressão/incentivo e racionalização. A desconexão moral está intrinsecamente ligada a essa interconexão. A presença de oportunidades, aliada a pressões ou incentivos, juntamente com a capacidade de racionalizar ou justificar as ações fraudulentas, pode levar a uma maior propensão a comportamentos antiéticos. É fundamental compreender esses aspectos e abordar cada um deles para prevenir e detectar fraudes de forma eficaz.